sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Post 2 - Alguns anos depois do recreio

A Festa Junina


Até aquela fria noite de junho minha sexualidade estava adormecida. Depois dos delírios de infância, passei um tempo hibernando. Não tenho muitas referências desta época. Nem sexuais, nem assexuais. Parece que realmente dormi todo este período.

Voltando àquela fria noite de junho, me encontro em mais uma festa junina que aquele mês nos reserva. Muita pipoca, amendoim, algodão doce. Quentão não. Ainda era uma criança. Não podia e não gostava.

Devia ter uns onze ou doze anos. Ou dez ou treze. Quatorze não. Nem nove. Nem mais, nem menos. Naquela época só queria saber de zuar com a molecada. Nem ligava para meninas. Elas eram chatas.

E eu tonto. Muito tonto. Até aquela noite. A noite em que acordei.

Em meio às tantas brincadeiras imaturas que praticávamos, alguém jogou minha carteira do outro lado da barraca de pesca. E lá fui eu busca-la.

Depois de alguma procura a encontrei. No chão. Sendo pisada por uma bota preta. Ajoelhei-me e a puxei. Ela não veio, mas uma bronca sim. – “Ei garoto! Está louco, é? Larga meu pé!” – “Não estou no teu pé não, sua louca. Quero minha carteira. Que você está pisando.” – ainda ajoelhado, tentando pegar minha carteira, mas sem olhar para a garota – “Quer sua carteira?” – e puxou-a com o pé – “Então vai buscá-la” – dando um bico na minha carteira que voou para longe.

Levantei-me com raiva, quase cerrando o punho (mas não iria bater em uma mulher, apesar de não gostar delas, na época) – “Sua filha duma...” – fechando a boca e segurando a língua, afrouxando o punho e abaixando a cabeça, assim como os olhos.

Não tive coragem de olhá-la. Não novamente. Com o coração disparado, a mente acelerada, um nó na garganta, a cabeça zonza e o corpo cambaleante saí em disparada.

“Ela foi para lá, seu tonto!” – gritou-me apontando, entre gargalhadas, a direção que deveria seguir.

A carteira. Nem me lembrava dela. Peguei-a e sumi em meio à multidão. Corri para um canto e encontrei um lugar para sentar. E pensar.

Por que não consegui falar nada para aquela filha duma? Nem consegui olhar para ela. Filha da. Que olhos ela tem, hein. Bem pretos. Como seus cabelos. Aff. Deveriia quebrar a cara dela. Para aprender. Não. Estragar aquele rosto de fada. Não, não. Aff.

“Hei, o que está fazendo aí sentado? Achou a carteira? O Hugo é um babaca mesmo. Brincadeira sem graça. Vamos para lá.” – Acordei, levantei e concordei. “É mesmo. Vamos.”

No caminho, avistei-a de longe. Era morena, baixa, cabelos bem pretos, lisos e curtos. Devia ser da minha idade. Vestia calça e botas sem salto, ambas de couro e pretas e uma blusa bem grossa de gola bem alta, também preta. O batom, bem escuro, destacava seu belo sorriso. Seus olhos pretos, um pouco puxados, sorriam em conjunto com sua boca.

Tentei mudar o caminho e desviar dela, mas não consegui e ela me avistou. Acompanhou-me com os olhos e, envergonhado abaixei a cabeça – “Marquinhôô, não estou legal, vou tomar um ar pra lá. Depois a gente se fala”. E sumi novamente.

Caminhei sem direção e sem conseguir esquecer daquele olhar que me perseguiu. Agora caminhei para bem longe. Onde não tinha mais ninguém. Queria ficar sozinho. Com meus pensamentos. E saber o porquê dela me incomodar tanto.

Sentado, com a carteira nas mãos, jogando-a de um lado para outro, fiquei algum tempo fora do ar. Até ela escapar entre meus dedos e cair logo à minha frente. Estiquei-me na tentativa de pega-la, mas não pude.

Mais uma vez ela se encontrava debaixo de uma bota preta. A mesma bota-preta-de-couro-sem-salto-estilo-montaria-com-algumas-tiras-laterais-presas-por-fivelas-prateadas.

“Que coincidência, hein! Novamente sob meus pés!” – desta vez olhando-a diretamente nos olhos, mantive meu corpo e braço esticados, sem mover um centímetro. – “Não vai falar nada não? Ou vou ter que chutá-la mais uma vez?” – tirando o pé de cima dela e preparando-se o chute – “Não!” – esticando o braço e alcançando a carteira com a mão, que agora era fortemente pisada pela mesma bota que pisara a carteira antes.

“Não vai falar nada de novo? Você tem algum problema hein?” – apertando o solado contra minha mão sobre a carteira. “Você é muito estranho. Acho melhor ir embora” – tirando o peso de cima de minha mão – “Não” – engolindo a seco a dor e a excitação que sentia – “Fique” – e parou, olhando-me com alguma surpresa que logo foi dissipada com um sorriso no canto da boca – “Por favor” – pisando novamente na minha mão e olhando naquela direção, que foi acompanhado também pelo meu olhar, para que depois se cruzassem novamente por alguns segundos que duraram uma eternidade – “Obrigado” – foi a única coisa que consegui pensar e falar.

“Assim vai doer suas costas. Ajoelhe-se. É melhor” – e sem pensar estava ajoelhado. Na verdade, curvado. – “Estique o outro braço. Não. Aqui. Perto da outra mão. Isso” – e conheci a sola da outra bota que usava.

Abaixei a cabeça e assim fiquei, imóvel, sem coragem de encará-la. Não sei quanto tempo passou. O suficiente para minhas mãos realmente doerem. Deu dois passos para trás. – “Estão sujas” – esticando a ponta da bota em minha direção – “Vou sair deste terreirão antes que as suje mais” – ameaçando virar-se e ir embora. – “Não. Por favor.” – em tom de súplica, olhando para seu rosto um tanto quanto surpreso – “Fique. Eu limpo”.

Novamente sorrindo e caminhando em minha direção, olhando-me nos olhos, de cima para baixo. Passou por mim. Caminhou ao meu redor. Parou na minha frente. Abaixei a cabeça. Mais uma vez não tive coragem de encará-la – “Então comece a limpar” – adiantando seu pé direito, encostando a ponta da bota em meus lábios e oferecendo-a para mim.

Senti o cheiro do couro. Meu sexo explodiu. Meu coração disparou. A língua escapou pelos dentes. Fez a boca se abrir e procurou o seu destino. Encontrou-o e no primeiro toque senti meu corpo fraquejar, a vista escurecer e a cabeça pesar. Respirei fundo, dei força ao corpo e à língua. Ela se esticou e percorreu alguns centímetros daquela superfície.

O cheiro. Agora o gosto. Que combinação. Entrei em transe. Principalmente minha língua. De maneira compulsiva e convulsiva percorreu desesperadamente cada pedacinho daquela delícia preta.

Nem percebi que ela havia abaixado o pé e o colocado de volta ao chão. Neste momento encontrava-me de quatro, lambendo freneticamente a bota de alguém que nem sabia o nome.

Ofereceu-me a parte de trás da bota e indicava com o dedo aonde deveria limpar. Satisfeita, ofereceu o outro pé e continuei meu serviço por mais alguns minutos.

Só despertei para a realidade quando retirou a bota de minha boca e deu dois passos para trás. Sem entender o que se passava e louco de vontade de continuar encontrei-a de pé olhando para mim. Abaixou os olhos e movimentando as pernas, conferiu o resultado do meu trabalho.

“Nada mal. Mas ainda vai ter que melhorar muito antes que deixe limpa-las novamente.” – olhando-me de maneira indiferente – “Eu melhoro. Eu prometo” – escapou-me, quase imperceptível – “O que? Não entendi nada. Mais alto” – franzindo a testa e com olhar de desaprovação – “Eu melhoro. Eu prometo. Eu vou limpar melhor” – ainda de quatro e implorando quase desesperado – “Isto nós vamos ver” – em um leve tom de ameaça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário